Para Porter o cenário baseia-se em um conjunto de suposições plausíveis sobre as
incertezas importantes que, de alguma forma, poderia influenciar a estrutura setorial. Ribeiro destaca que, na ótica de Porter, a unidade apropriada para a análise de Cenários é o
setor ou indústria, pois as incertezas em nível macroeconômico, político, tecnológico são
analisadas em busca de implicações para a concorrência. Na base para a elaboração de cenários
na metodologia de Porter é utilizado o modelo das cinco forças competitivas.
De acordo com Porter, o modelo das cinco forças representa a análise da
competitividade e atratividade de um setor sob ótica de cinco principais elementos: rivalidade
entre os concorrentes ameaça de novos competidores entrando no mercado, poder de
negociação de compradores, poder de barganha de fornecedores e ameaça de produtos ou
serviços substitutos. A construção de cenários no método de Porter passa pelos seguintes
passos críticos:
Identificação de incertezas: nesta etapa devem ser levantadas os principais aspectos
que possam acarretar impactos positivos ou negativos no futuro da empresa. De
acordo com Porter, deve-se analisar cada elemento relacionado ao modelo das
cinco forças e classificar tais elementos de acordo com três categorias, conforme o
grau de incerteza (elementos constantes, incertos ou pré-determinados – para os quais
a mudança é previsível). Nesta análise, as incertezas são classificadas em tendências
aparentes, germes de novas tendências ou ruptura de tendências aparentes. Também
nesta etapa são levantadas e identificadas as descontinuidades. Porter recomenda combinar a opinião de peritos com o de observadores externos a empresa,
para evitar pensamentos convencionais e abrir possibilidades de identificar
possibilidades de mudança.
Determinação dos fatores causais: nesta fase devem ser determinadas as principais
causas dos elementos incertos identificados na fase anterior. Segundo Ribeiro,
esta tarefa é importante, pois permite entender quais elementos incertos podem
influenciar outros elementos incertos, o que possibilita entender o relacionamento
dessas variáveis, podendo-se identificar os fatores causais. Porter também
destaca que nesta fase devem ser supostas as possibilidades de estado futuro para cada
variável, identificando as configurações alternativas que podem surgir no futuro.
Escolha das variáveis de cenário: nesta etapa deverão ser selecionados os elementos
incertos que apresentam maior independência em relação às outras variáveis e que
apresentam maior grau de impacto em relação a indústria. De acordo com Porter somente estas variáveis independentes serão consideradas as variáveis de
cenários. Feita a identificação procede-se a análise mais detalhada de seus fatores
causais.
Definição das configurações das variáveis de cenário: devem ser definidas as
suposições plausíveis relativas a cada variável de cenário. Cada conjunto de
suposições (chamado pelo autor de configurações) depende do quanto cada fator
causal possa diferir em sua evolução futura. Para evitar que o número de combinações
seja maior do que o tratável, Porter sugere restringir o tratamento de acordo
com quatro características: evidenciar diferenças importantes na estrutura da indústria,
destacar impacto sobre a estrutura, considerar opinião da alta administração em pelo
menos um cenário e, por ultimo, considerar um limite quanto ao numero de cenários a
construir (três ou quatro geralmente).
Construção dos cenários, a partir das configurações mais consistentes, escolhidas
para cada variável: o cenário deve apresentar uma visão consistente da estrutura de
relacionamento do estado futuro das variáveis. Para Porter, as variáveis de
cenário, mesmo que razoavelmente independentes, se afetam mutuamente, o que
facilita a obtenção de combinações consistentes. A seguir, para cada estrutura de cenários, devem-se derivar o comportamento das variáveis dependentes e acrescentar
os elementos pré-determinados e os elementos constantes, analisando com cuidado a
intensidade com que cada um entrará em cada cenário.
Análise dos cenários: deve-se analisar as implicações de cada cenário para a
concorrência. Análises sob a ótica das cinco forças competitivas, sobre a atratividade
futura da indústria e sobre vantagens competitivas devem ser realizadas para cada
cenário. Quanto à sequencia, Porter recomenda analisar primeiro os cenários
mais distintos e deixar por fim o cenário mais provável, para que a visão mais
diferenciada dos cenários exploratórios auxilie na variedade de opções estratégicas.
Introdução do comportamento da concorrência em cada cenário: Porter explica que o comportamento da concorrência, além de afetar a empresa diretamente,
pode afetar a velocidade e a própria direção da mudança estruturais dos cenários. O
comportamento da concorrência possui duas maneiras de ser tratado: deve-se
introduzir variáveis de cenário relacionadas à concorrência se o comportamento desta
for altamente incerto ou se a entrada de novos concorrentes seja provável. Outros
comportamentos da concorrência devem ser tratados como elementos da análise crítica
de vantagem competitiva de cada cenário.
Cenários industriais e estratégias competitivas: definir a estratégia da empresa de
acordo com as possibilidades de evolução dos cenários analisados. Porter recomenda alguns métodos básicos para se lidar com a incerteza na concepção da
estratégia, estes métodos incluem apostar em um dos cenários (mais provável, ou
melhor, para a empresa), garantir resultados para qualquer cenário (preservando sua
“flexibilidade”) e trabalhar para influenciar alguns fatores causais de acordo com o
melhor cenário. Ao mesmo tempo o autor alerta para os riscos contidos em cada uma
destas estratégias, que estão relacionados ao comprometimento prematuro de recursos,
inconsistências das estratégias para cenários alternativos, probabilidade relativa dos
cenários e custos para modificar a estratégia.
Porter finaliza indicando que, para lidar com os riscos, quatro aspectos devem
ser contemplados: definição do cenário mais interessante de acordo com a posição
competitiva inicial, importância e vantagens de ser o first-mover, atenção aos custos e
recursos necessários e análise das escolhas esperadas dos concorrentes.
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