Para Godet (apud MARCIAL; GRUMBACH, 2000) cenário é o conjunto formado pela
descrição de uma situação futura e do encaminhamento dos acontecimentos que possibilitem
passar da situação originária para a futura. De acordo com Godet et al (2008), a elaboração de
cenários traz diversas vantagens: é possível tomar consciência dos múltiplos futuros possíveis,
a obrigação de analisar a interdependência que relaciona os elementos a serem estudados e a
possibilidade de identificação de problemas que poderiam ser ignorados ou deixados de lado
por métodos menos abrangentes. O método de Godet, descrito por Ribeiro (1997), baseia-se
na identificação e projeção de variáveis-chave de cenários e dos atores relacionados a estas
variáveis, ou seja, os stakeholders para o qual os cenários são elaborados.
Segundo Ribeiro (1997), a interação e as relações de força entre os atores e as variáveis
resultam na dinâmica em direção aos futuros possíveis. A descrição dos cenários estudados é
baseada na evolução mais provável das variáveis-chave e nas hipóteses de comportamento
dos atores. O método de cenários de Godet é dividido em três grandes blocos.
Construção da base analítica e histórica: é a representação do estado atual do
sistema, inclui a identificação das variáveis-chave e do conjunto de atores. Godet et al
(2008) recomenda que esta fase seja produzida essencialmente em workshops que
produzam um levantamento aprofundado e detalhado. Nesta etapa as variáveis são
definidas, classificadas e o relacionamento entre elas é analisado e estabelecido por
meio de uma matriz. Tal matriz auxilia a classificar as variáveis segundo sua
influência nos cenários e sua dependência de outras variáveis. Na análise da influência
das variáveis, Godet et al (2008) indica que seja analisado não apenas seu
relacionamento direto, mas que se analise também as relações indiretas e potenciais,
que podem ser calculadas com o uso do software MICMAC, de autoria de Godet.
Quanto aos atores, são analisadas suas evoluções no horizonte dos cenários estudados,
bem como os autores podem ser classificados como invariantes, tendências pesadas
(afetarão variáveis por longo período) e fatos portadores de futuro (poucos
perceptíveis no presente, mas que podem virar tendências pesadas e ficar relevantes no
futuro). Por fim, é feita a análise da relação dos atores com as variáveis-chave.
Exploração do campo das possíveis evoluções: bloco que resulta do estudo das
incertezas. De acordo com Ribeiro (1997), pelo método de Godet, é feita uma análise
morfológica das variáveis e fatos portadores de futuro mais importantes e que,
consequentemente, podem chegar a um grande número de potenciais cenários. É feita
uma lista de combinações e possibilidades destes estados futuros, verificando
restrições e incompatibilidades para combinar apenas conjuntos de estados futuros
factíveis. A partir desta lista, uma matriz é construída com as combinações de maior
contraste, para que passem por uma etapa de probabilização. Para a análise de probabilidade de cada combinação, Godet et al (2008) também recomenda o uso de
um software, o SMIC Prob-expert, que receberá o resultado da consulta a especialistas
quanto às probabilidades de ocorrência de cada combinação em rodadas organizadas
pelo software, que indicará o conjunto de combinações mais prováveis a partir das
médias das notas dadas pelos especialistas.
Elaboração dos cenários: a partir dos conjuntos de combinações selecionados da
etapa anterior, constrói-se o cenário de referência, com base na reunião dos conjuntos
com maior probabilidade de ocorrência, além da construção de pelo menos um cenário
contrastado, distinto do cenário de referência. De acordo com Godet et al (2008), para
cada cenário designado deve-se construir uma narrativa sequenciada, partindo da
situação atual e chegando à visão de futuro determinada pelo cenário escolhido,
destacando rupturas e mudanças que aparecerão em cada cenário, além da descrição de
um caminho que possa conduzir da situação atual para a desejada.
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